quinta-feira, dezembro 18, 2008

ESTE É O FIM...

... mas, como todo término, apresenta um recomeço.

www.dribas2.blogspot.com

sábado, agosto 16, 2008

CRÔNICA 1

HOJE É O ECLIPSE

Li que eclipses são importantes na astrologia. Simbolizam o final de uma fase e o início de outra. Se será melhor, pior, a informação relevante, ninguém diz ou assume não saber. Aguardo ansioso. Para alguém que vive de promessas, sobrevivendo à realidade que não corresponde às expectativas, é uma grande oportunidade.
Pesquisei mais e descobri que o Arpoador é o melhor lugar para observar o fenômeno. Será parcial e começará assim que a lua surgir. Estarei lá. Eu e várias pessoas, cada um com suas razões. O próximo ocorrerá em 2009; é muito bonito; um bom assunto para conversar no jantar ou no bar; uma ocasião para levar seus amantes e cristalizar o sentimento, como se aquilo fosse apenas para os dois e os outros meros coadjuvantes, penetras numa festa particular. De alguma forma inconsciente, todos parecem saber que é uma nova era está surgindo e não querem perder o ritual de passagem.
Para onde vamos? O que acontecerá com o mundo? Como nossos corações e mentes reagirão? Reconheceremos nossos erros? Seremos pessoas melhores ou mergulharemos no abismo? Ao encarar o fundo do poço elevado aos céus, com o contorno de uma faísca branca, o que faremos? Abraçaremos as trevas ou nos agarraremos àquele resquício de luz? Onde está a redenção? Na escuridão, onde todos são cegos e iguais, ou na luz, tão bela e dotada da capacidade de criação? Queremos fraternidade ou renovação? O resumo de todas as dúvidas de uma nova época, que só agora ganha formas.
Quando a Terra estiver Sol e Lua, a porta se abrir, algo sairá ou entrará. Tocará a todos nós. Se nossas mentes estiverem abertas, talvez nossos desejos se tornem reais. A imaginação se fortalecerá de tal maneira que se libertará e virá ao nosso encontro. Assim que encararmos nosso reflexo, em meio à transição, ele perguntará se o início é o fim ou fim é o início. Tremeremos, como seres de carne e osso. Talvez alguns escutarão a pergunta, outros estarão presos demais no evento para prestar atenção.
Eu fecharei meus olhos. Me ajoelharei, juntarei minhas mãos com força, rezando. Trincarei os dentes. Não me importarei com a sujeira ao meu redor. Tudo para implorar perdão por todas essas coisas que eu fiz. Assumo minha culpa. Fui dominado por obsessões de origem nebulosa. Quando tudo estiver quase escuro, responderei ao enigma, esperando não ser devorado no processo.
Vou querer que o eclipse acabe logo. Preciso de luz.

domingo, agosto 10, 2008

CARTA

Pai,
Como sabemos, os últimos anos não foram fáceis para mim. Entre minhas falhas e descaso com oportunidades e situações urgentes, me encontrei em um lugar inesperado. Pago o preço por meus erros, mas sinto esperança. A verdadeira e grande virada de minha vida está próxima e, pela primeira vez em muito tempo, estou trabalhando nisso. O que me dá força para lutar e otimismo quanto ao futuro é o apoio irrestrito que você e minha mãe me têm proporcionado.
Sei que discordamos (e discutimos mais ainda) com relativa freqüência. Independentemente de quem estava certo, você nunca deixou de me guiar pelo o que considera o melhor caminho. Do seu jeito particular, batalha para conseguir colocar um pouco de ordem em minha mente selvagem.
Fez o necessário para que meus sonhos se conciliassem com as exigências da realidade. Me confortou com as palavras que precisava ouvir e os abraços que carecia em meus períodos de sombra. Mais importante, mostrou que sem ação constante não há vida e que o terreno da mente é a ferramenta para tal.
O resumo é que durante toda minha breve existência, você sempre acreditou em mim e me ama. Ama não pelo o que aparento ser e não apenas porque sou seu filho. Ama por quem sou e sabe que me tornarei. E, mais ainda, demonstra, ao invés de usar somente palavras, que são meras ilustrações para a grande história que é a vida humana. Com isso, deu a prova definitiva de que nossas ações são o que nos definem como pessoas. E eu sou uma boa pessoa.
Obrigado por tudo e saiba que te amo. Este texto é apenas uma pequena demonstração disso.
Você é um grande pai e será uma honra carregar seu legado. Mais uma vez e sempre, te amo.
Feliz dia dos pais.
Agosto de 2008,
D.R.R.
***
Também comprei um cd de música clássica para ele. Eu adoro meu pai!

domingo, junho 29, 2008

BREVE ANÁLISE SOBRE A ESTÉTICA DO SONHO NO CINEMA POP, PARTE 1

Recentemente, li um texto de Glauber Rocha, Eztetika do Sonho. Achei muito bom e recomendo para toda a família. Originalmente, parte de um trabalho para a faculdade, a análise abaixo relaciona aspectos do pensamento do cineasta com o novo filme de Richard Kelly, diretor de Donnie Darko. Southland Tales - O Fim do Mundo está disponível nas locadoras para aqueles que desejavam conferir o recente trabalho (em termos, pois o filme é de 2006.) do criador do coelho gigante e anti-Harvey, Frank. Para ninguém falar que não foi avisado, o filme é uma bagunça, mas, ainda assim, fascinante. A meu ver, se ele tivesse filmado algumas cenas extras e eliminado alguns momentos, ficaria menos confuso e não tiraria o charme ou banalizaria as intricadas teorias que utiliza para justificar aquele mundo, tão próximo do nosso que pode-se até sentir seu hálito na nossa nuca...
A complexa trama de Southland Tales – O Fim do Mundo se passa numa realidade alternativa. Após um ataque nuclear ao Texas em 2004, os EUA, quatro anos depois, se transformam em uma nação militarizada, em que as liberdades civis são abolidas em nome da segurança nacional e a descoberta de uma nova fonte de energia alimenta o poderia econômico e bélico. Neste cenário caótico, surge um grupo revolucionário chamado os Neo-Marxistas. A história começa quando um astro de filmes de ação, Boxer Santoros (Dwayne Johnson), reaparece após um sumiço misterioso. Determinado a fazer um novo filme, pede ajuda ao policial Ronald Taverner (Seann William Scott). Aos poucos, é revelado que os dois personagens são elementos-chave em uma conspiração visando o domínio mundial.
Southland Tales aborda uma sociedade oprimida por um regime conservador, em que celebridades servem como termômetro para transformações sociais. Embora longe da figura dos intelectuais que poderiam guiar o proletariado em sua luta contra uma governo de conotações fascistas, os artistas do longa, ligados a Hollywood e à indústria pornográfica, são extremamente politizados e usam sua influência social para este propósito. Nesta realidade, o artista/intelectual é substituído pelo artista/celebridade. Sua opinião tem força na massa e eles se aproveitam disto. Além do Santaros, um ator ligado ao Partido Republicano, há o outro ator Pilot Abilene (Justin Timberlake), cuja carreira acabou após um incidente no Iraque, que usa seu prestígio para promover seus ideais políticos e a atriz pornô Krysta Now (Sarah Michelle Gellar) que, numa tentativa de se reinventar, estrela um reality show em que se propõe a discutir tópicos ligados à sociedade. As atrizes de filmes eróticos pertencem ao movimento neo-marxistas e têm o propósito claro de influenciar o voto nas eleições que se aproximam, como a dupla Dion (Wood Harris) e Dream (Amy Poehler), também da indústria pornográfica, que se sacrificam em nome da causa esquerdista. Através de reality shows, simulação de atos para mostrar a violência policial e chantagem a membros da elite conservadora, entre outros, lutam para retirar os atuais governantes do poder.
Durante o filme, Pilot Abilene lê trechos do Apocalipse. Abilene acredita que o mundo, como conhecemos, está chegando ao fim e vê o ambiente caótico como o último estágio antes de uma nova realidade assumir. Em seu texto, Glauber Rocha afirma que
Este misticismo é a única linguagem que transcende ao esquema racional de opressão. A revolução é uma mágica porque é o imprevisto dentro da razão dominadora. No máximo é vista como uma possibilidade compreensível. Mas a revolução deve ser uma possibilidade compreensão para a razão dominadora de tal forma que ela mesma se negue e se devore diante de sua impossibilidade de compreender.[1]
No filme, a nova realidade assume longe dos olhos de todos. O regime atual, regido por um poder direitista, é destronado quando através de cenas cujo visual demonstra a mudança do sistema: a ascensão de um carro de sorvetes aos céus, em que Taverner descobre seu destino (servindo como metáfora para o cavalo branco em que um anjo anuncia a segunda vinda do Messias), a alteração de um fenômeno climático nos céus, que retrocede, e a explosão de um dirigível em que todos os representantes do poder/ sistema estão presentes. Através destas três seqüências, o diretor estabelece visualmente a renovação no mundo da trama.
É interessante notar também que novo Messias, Taverner, é um personagem que circula livremente entre os dois mundos, o oficial e o revolucionário. Taverner, como executor da lei, faz parte de um sistema cujos métodos contesta. Ele é como o animal de duas cabeças: uma submissa e fatalista ao que o explora e outra que não consegue explicar o absurdo de sua situação. Esta questão das duas cabeças é ressaltada pelo fato de que o personagem parte em busca de seu irmão gêmeo que, no final, se revela ser ele mesmo em outro momento do tempo, outra dimensão. Ao contrário dos outros personagens, que circulam com uma agenda política, o policial procura o perdão. Devido a um erro seu, desfigurou a face de Abilene e não consegue viver em paz. Quando Abilene o perdoa e ele perdoa a si mesmo (literalmente, neste caso), Taverner encontra a paz, se funde com seu outro eu e pode assumir sua condição de líder justo em um novo mundo. A revolução, como possessão do homem que lança sua vida rumo a uma idéia, é o mais alto astral do misticismo. As revoluções fracassam quando esta possessão não é total, quando o homem rebelde não se libera completamente da razão repressiva...Taverner, por sua vez, é o elemento que o sistema deseja destruir, mas é ignorado porque Santaros é confundido com o Messias. Citando o texto,
A razão dominadora classifica o misticismo de irracionalista e o reprime à bala. Para ela tudo o que é irracional deve ser destruído, seja a mística religiosa, seja a mística política.
Outro dado interessante é o paralelo entre o Apocalipse e a Eztetyka do Sonho. Glauber fala sobre uma nova realidade, em que uma revolução seria efetiva, o que é justamente do que se trata o texto bíblico, que consiste nos fatos que precedem o retorno de Cristo, o revolucionário.
Uma obra de arte revolucionária deveria não só atuar de modo imediatamente político, como também promover a especulação filosófica, criando uma estética do eterno movimento humano rumo à sua integração cósmica.
Southland Tales abrange uma variedade de tópicos, que vão desde o religioso e política (americana) atual, à filosofia (existencialista e marxismo, mesmo que este último seja mais utilizado para mostrar a interpretação errônea de seus seguidores), à cultura de massa, que transforma ídolos das massas em porta-vozes de assuntos sociais complexos, flertando com física e ambientalismo para reforçar seu ponto de que o mundo, devido a gama de interesses pessoais e assuntos em pauta, está perdendo em meio a um volume de informação tamanho que torna-se difícil processá-la e em que a revolução só será possível daquele elemento menos comprometido com o sistema, seja dentro ou agindo de modo complementar.

[1] ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo. Editora Cosac Naify, São Paulo, 2004

RESENHA AMBROSIA 1

Agora, uma resenha publicada na página Ambrosia (http://www.ambrosia.com.br/) do filme Homem de Ferro. Espero que gostem (da resenha e do filme, esclareço).

SÓLIDO COMO FERRO

Homem de Ferro estreou no Brasil no dia 1 de maio e foi para o topo da bilheteria tanto nos EUA quanto aqui, Brasil. Estrelada por Robert Downey Jr., em seu primeiro papel de destaque após inúmeras confusões, o filme tem todos os ingredientes de uma superprodução: elenco lotado de estrelas, uma fonte prestigiada (neste caso, os quadrinhos), ótimos efeitos especiais e sonoros, ação e trilha feita para vender CDs, mostrando que todo o grande orçamento foi usado na tela. E é tudo de bom que se espera de um produto de entretenimento.
Assim como no primeiro Homem – Aranha, é uma história de origem e leva seu tempo para apresentar personagens e o desenvolvimento do herói até seu primeiro teste ou aventura. E, como neste filme, a mesma sensação de magia e diversão está presente. O diretor Jon Favreau e sua equipe se puseram a criar um filme que fosse igualmente interessante para os fãs quanto não – iniciados. Para os primeiros, além do respeito às características dos personagens e suas relações, há diversas citações à mitologia de origem do Homem de Ferro que não descreverei para não estragar a surpresa de ninguém. Para os que não conhecem a saga de Tony Stark, o homem por trás da armadura, há uma trama coesa e inteligentemente sutil, em que a dramaturgia e as inevitáveis explosões e lutas convivem de maneira harmoniosa e coerente. Além disso, é recheada de situações divertidas e ótimos diálogos. Favreau conseguiu a façanha de manter o equilíbrio essencial para o gênero, de não desprezar os fãs e não alienar o restante da platéia.
Há outros méritos, além do roteiro sóbrio, como o elenco. A maioria das críticas foi unânime em elogiar a performance de Downey Jr. e com razão. O ator interpreta Tony Stark como um playboy egoísta e inconseqüente, mas de bom coração e que, por isso, “constrói” sua redenção como herói. Stark é um empresário showman que, ao ver o alcance negativo de seus atos, decide lutar contra o monstro que criou, tanto como executivo como seu alter – ego dourado e vermelho. Vale notar que o humor sacana que Downey Jr. colocou em Stark, além de soar natural no ator, funciona muito bem para seduzir a platéia. Tony Stark não é um galã (apesar de seu sucesso com as mulheres), nem um tipo antipático que cria uma consciência. Ele é o amigo fanfarrão e meio fora da realidade que todo mundo gostaria de ter.
Embora com menos destaque, já o protagonista e seu intérprete dominam o filme tanto dentro quanto fora, os coadjuvantes cumprem de maneira excelente suas funções. Eles são os normais, os discretos e as vozes que tentam trazer Stark à razão e, principalmente, à maturidade. Por isso, Gwyneth Paltrow, Terrence Howard e Shaun Toub, entre outros, acertam no tom abaixo do protagonista e marcam a trama com a sobriedade necessária às exuberâncias do protagonista. Já Jeff Bridges, como o vilão, faz uma construção interessante, começando contido, como uma ameaça velada e, à medida que a trama avança, torna – se maníaco, embora sem os excessos que muitas vezes encontramos em filmes de super – heróis. De certa maneira, a interpretação de Bridges para o personagem remete a de Ian McKellen no primeiro X – Men: respeitoso, calmo, mas ameaçador, assumindo sua real natureza na apoteose final. Aliás, como nota de rodapé, Bridges está muito engraçado como Monge de Ferro, mas mantendo a convicção de força mortífera.
Os aspectos técnicos estão no tom do filme, tornando convincente o universo de Tony Stark e a proposta de apresentar uma boa diversão escapista e que não subestima a inteligência da platéia com exageros pirotécnicos. A música foi muito bem seleciona e remete tanto ao espírito do filme e do protagonista quanto ao Homem de Ferro de em si.
Para inaugurar a temporada de superproduções de aventura, Homem de Ferro honra o compromisso e deixa o público ansioso pela seqüência.

CLUBE DA LEITURA 8

Para não concorrer comigo mesmo, decidi postar contos que não entraram na página do Clube da leitura (www.baratosdaribeiro.com.br/clubedaleitura , passem e comentem!) e publicar inéditos no blogue. Como este.
FREAKSHOW
Agora, escuta essa.
O homem, deprimido, dirigia em uma longa avenida. Ele achava que sua vida era como a rua, uma trajetória sem fim e obstáculos para frente. No entanto, quando menos esperava, foi vítima de um golpe. Nada restava naquele momento do que se recuperar e torcer para que não fosse tarde demais para conquistar algumas doses de glória. O homem pensou que se o seu carro estava na quarta marcha, sua vida parecia ter ficado presa em primeira. A música estava alta e ele procurava por algo novo. Qualquer uma, que libertasse da rotina agridoce em que se encontrava. As luzes alaranjadas dos altos postes, que cortavam seu semblante a cada 2 segundos, aumentavam a melancolia e faziam da busca, inadiável.
Ele, finalmente, pára e encosta.
- Oi.
- Oi, amor. Tá a fim de um amor gostoso?
- Eu não sei... pode ser...
- Completinha é 100.
- Entra aí...
- Você me parece familiar...
O homem tremeu neste momento. Para não ter que voltar à realidade da mente, começou a dizer que ia levá – la para um motel que conhecia, muito discreto, e que poderia pagar mais se gostasse do serviço. A passageira, finalmente, acalmou e improvisou uma tabela de preços. O homem, crédulo, ouvia com atenção.
Eles chegam ao motel. Param, pagam, pegam a chave, param de novo, saem e andam até o quarto.
É uma suíte de luxo, com banheira para quatro, sauna, poltronas, frigobar e espelhos por todas as paredes. Na cômoda, botões que ativavam desde o sistema de refrigeração à TV. A passageira sintoniza numa estação e inicia uma desajeitada dança sensual. O homem se senta e assiste, ligeiramente boquiaberto, fascinado com aquela estranha criatura.
- Você já se sentiu como se não pertencesse?
- Hum... fala não, bofe. Vem dançar, vem...
- Não. Eu prefiro ver. Mas, não sei, você já se sentiu como se as pessoas te rejeitassem, por mais que você... tenha tentado se inserir, tenha sido legal com todo mundo...
- Querido, escuta a música... Não te deixa com tesão?
- Por mais que você tenha tentado, eles ainda te olham como se você fosse um estranho, uma criatura do outro mundo...
- Mais do que imagina... Ai...
- Você é chutado do mundo deles... Não, porque você tenha feito algo errado. Não... Você fez tudo certo. O problema é, você não pertence. O acesso é exclusivo e você não tem pedigree. Você é uma aberração...
- Você quer conversar ou quer sexo?
- Tira a roupa.
Ela tira tudo de uma vez. Seu corpo é marcado por cicatrizes e cortes. Os seios são pequenos e caídos, como se tivessem sido colados ao tórax pelo lado de fora. As mãos e pés, grandes. O rosto, que não escuridão, disfarçava, ganhou feições mais masculinizadas. Entre as pernas, um grande pênis.
- Quer fazer amor, gatinho?
O homem tira a roupa. Seu corpo, apesar de musculoso, é pequeno, quase delicado. Os pêlos faciais são grosseiramente falsos. O peito é liso e rente. Seus olhos apertados e as bochechas, ligeiramente rosadas. Ele tira a última peça de roupa, a cueca, e revela uma vagina.
- Não. Quero que você me coma, aberração.

quinta-feira, maio 08, 2008

CLUBE DA LEITURA 7

O ANIMAL BABANTE

Creuza Sueli deu um longo suspiro enquanto subia no elevador. Os números passavam vagarosamente, mas ainda rápido demais para ela. Ela fechou os olhos e forçou o pensamento para o churrasco de domingo à tarde. O Flamengo venceu e seu marido promoveu uma festança por conta. Cerveja, carvão e, claro, a carne, tudo comprado com antecipação e preparado, só esperando para o que time fizesse sua parte. Tocou forró e funk até à madrugada. A carne estava deliciosa e a cerveja gelada. Parecia réveillon na praia de Copacabana. Creuza Sueli se concentrava em todos os momentos felizes para animar o espírito e poder, desta forma, encarar o seu Gouveia.
Seu Gouveia era um senhor de 110 anos, mas com espírito de Matusalém com prisão de ventre. No entanto, pelo o que dizem, o sujeito já era um filho da puta desde jovem. Foi o primeiro morador do prédio e último representante da primeira geração de condôminos. Era como aquela antiguidade que você recebe de presente, mas é feia pra caramba e não combina com nada na sala, então é deixada em seu canto para não incomodar a vista. Seu Gouveia, ao contrário do objeto, estava muito vivo e fazia questão de mostrar sua presença das maneiras mais desagradáveis possíveis. Quando encontrava os porteiros vendo o jogo na TV de 5 polegadas que um deles trazia, dizia algo como “Vão trabalhar! Isso aqui não é o barraco de vocês!” Quando as crianças corriam na entrada, comentava alto: “Esses pivetes deviam apanhar com cinto e ajoelhar no milho para aprender o que é respeito!” Seu Gouveia, de longe, não era a pessoa mais amada do prédio ou de qualquer lugar onde ele estivesse.
Há alguns meses, seu Gouveia caiu no banheiro e quebrou a perna. Como nem seus filhos conseguiam acumular suficiente força de vontade para encará – lo, contrataram uma enfermeira para fazer o serviço sujo. Duas mulheres depois, entrou Creuza Sueli. Era sua segunda semana no trabalho e todo dia ela rezava duas Nossas Senhoras, uma antes de sair de casa e outra quando chegava. A primeira era para que ela não matasse o velho e a segunda, agradecendo por sobrevivido ao dia e resistido às tentações.
O elevador parou e ela saiu. Andou pelo corredor lentamente, sentindo – se levemente tonta. Abriu a porta e entrou. Assim que fechou, ouviu aquela voz rouca de cigarro.
- Está atrasada de novo, sua puta! Eu estou morrendo aqui e você fica se oferecendo no meio da rua para marginal! Crioula é tudo igual mesmo! Só serve para isso!
“Não mata o velho, não mata o velho, não mata o velho! Você precisa do dinheiro pra pagar o quarto na casinha em Búzios para as férias! É só mais esta semana e você consegue! Você e Clayton juntos na praia, com os amigos pro feriadão. Você consegue, teu santo é forte!”
- Cadê você? Tá roubando minhas coisas? Deixa de bunda mole e me levanta pra mijar!
“Não mata o velho! Cadeia. Não vale a pena!”
Creuza Sueli, após criar coragem, chega no quarto do homem.
- Bom dia, Seu Gouveia.
- Bom dia é a puta que pariu!
- Vejo que continua espirituoso como sempre...
- Espírito? Você quer que eu morra ou tá fazendo macumba no seu terreiro contra mim? Pode fazer! Eu agüento todas as bocas de sapo fechadas do mundo!
“Infelizmente...”
Enquanto ela o ajudava em sua higiene, mais palavras gentis seguiram. E assim foi o dia, como todos os outros.
Finalmente, o último dia! Creuza Sueli estava em estado de graça. Não veria mais aquela praga preconceituosa e babante e teria o dinheiro pro quarto no feriadão. A única diferença era que ele estava mais calmo. Continuava insultando – a e gritando horrores como sempre, mas sem o fervor de antes e mais calado.
- Seu Gouveia, semana que vem, uma nova menina vem aqui e vai cuidar do senhor. Se cuida.
“Uma palavra de consideração não dói.” – pensou.
- Vá à merda! – ele respondeu.
Ela saiu, sentindo – se muito bem consigo mesma. Tinha conseguido o que queria e aturado um dos seres humanos mais desprezíveis que encontrou. Era uma santa.
Seu Gouveia, sozinho, deitado na cama, não conseguia dormir. Encarava o teto e pensava: “Lá se foi mais um amor da minha vida...”

sábado, maio 03, 2008

CANÇÃO PARA O AMOR QUE ESTÁ POR AÍ

Não é texto meu, mas a letra diz tudo que espero da minha cara metade, onde quer que esteja. Cedo ou tarde, eu vou te encontrar. Eu sei. Não tenho pressa…

WILD THING

(riff)

Wild Thing!
You make my heart sing.
You make everything... groovy!...
Wild Thing.

Wild Thing,
I... think I love you.
But I wanna know for sure...
So, come on, and... hold me tight...
I love you...

Wild Thing!
You make my heart sing!
You make everything... groovy!...
Wild Thing!
Wild Thing,
I... think you move me...
But I wanna know for sure!
So, C'mon, and... hold me tight.
You move me...

(Ápice.)

Wild Thing!
You make my heart sing!
You make everything... groovy!
Wild Thing!
C'mon, C'mon, Wild Thing!
Shake it, shake it, Wild Thing!

...

Obs.: Não sei se a versão original é do The Animals, The Troggs, Jimi Hendrix ou mesmo da Grace Jones. Se alguém souber a resposta, por favor, revele, pois estou curioso.

Obs.2: Minha versão favorita é do The Animals. Sempre The Animals. Dei uma adaptada para lembrar mais o ritmo da música. Tem que escutar, cara. Tem que escutar...

sexta-feira, maio 02, 2008

TEXTO DE UM APRENDIZ

O AMOR NOS FAZ DE ANIMAIS

Este texto surgiu de um telefonema não atendido e de palavras que nunca consegui dizer como deveria. Ele aparece em neste formato, porque sempre me expressei melhor assim, do que deixando que meus reais sentimentos, e não os efêmeros e imediatos, viessem a meus lábios e saíssem de minha boca. Se é meloso, assumo a culpa. É o que sinto e, às vezes, é melhor desabafar do que buscar incessantemente a elegância e sutileza literárias.
Nada faz superar um amor do que um novo. É o que dizem. Sinceramente, ainda não sei. Amei de verdade uma única pessoa na minha vida e ela ainda é muito especial para mim. No bom e no mal sentido.
Eu desejo para ela o melhor de tudo. Quero que ela encontre uma pessoa maravilhosa e se case. Tenha filhos. Um bom apartamento e situação financeira. Quero a vida dela seja completa e, em seu leito de morte, ela se vá com um sorriso, porque foi bonita como um nascer do sol em uma praia paradisíaca. Ela merece, assim como eu e qualquer pessoa que tenha o coração no lugar certo. É a mais pura verdade.
Por que, então, toda a vez que a vejo, perco a razão e ajo feito uma besta? Será por que não arrumei uma nova pessoa para ocupar o espaço que vagou em meu espírito? Será por que ela já encontrou outra? Será possessão? Será devido a não a aceitar a inevitabilidade do destino, que mais uma vez me prova que seu curso seguirá, mesmo sem mim a bordo? Será tudo isso ou outra coisa?
Ela não me ama mais. É um fato. Ainda se importa comigo, se preocupa, quer meu bem. Este é outro. O desejo é recíproco, conforme afirmei acima. Apesar das boas intenções, faço questão de cultivar seu ódio a mim. Toda a vez que vejo, é como se enfiassem uma adaga em meu coração. Será que eu quero que ela se sinta tão mal quanto eu? Será uma maneira doente de nos conceder liberdade da influência desequilibrada que ainda possuímos sobre nossas vidas? Será auto – punição da minha parte? Quando haverá paz? O tempo dirá? Com certeza.
O amor é uma faca de dois gumes, cujo sintoma é loucura. Quando o casal está junto e feliz, a esperança floresce. A felicidade torna o banal algo insignificante. Quando se separa, carência e inconformidade reinam, envenenando nossas almas. Fazemos perguntas que não têm respostas lógicas. Nos culpamos por não conseguir controlar o que está além de nosso alcance. De qualquer forma, é viver em realidades alternativas. Em ambas, não sabemos qual é o rumo e seguimos de acordo com o sentimento do agora. Somos loucos. Perdemos nossa capacidade de raciocínio. Somos animais, guiados pelo instinto primordial da sobrevivência.
Não pedirei mais compreensão ou desculpas. Abusei do primeiro e, falo por mim, sei que ela está cansada de escutá – las. Errar é humano, mas repetir é estupidez. Quanto a ela, precisa entender que, a cada escolha, um sacrifício é feito. O que nós dois temos que nos dar conta é que, para se ter uma nova vida, abandonamos o passado. Seja por vontade própria ou não, este se torna um ponto de referência para melhorarmos nosso futuro.
Tudo muda. Pode ser que volte diferente, mas, quase sempre, quando ocorre, é gradual. É uma das transições mais dolorosas para uma alma jovem. O fim de um amor é uma morte, mas não irremediável. Nós continuamos, apesar. É nossa chance de sermos felizes de novo, o que nos faz humanos. Devemos abraçar esta possibilidade com unhas e dentes. É uma das poucas chances que temos de derrotar o que surge como inevitável.
Talvez o que nos torne animais é que amor e ódio são extremos – irmãos. Abel e Caim. Como evitar que a tragédia se repita é nosso grande desafio e dever. Todo dia é um teste de paciência e humildade e, por isso, uma benção. Porque nos dá a oportunidade de sermos melhores. Mas como é difícil... Complexo... Queremos o bem, mas nem sempre agimos de acordo.
Diz a música que todos nós, em algum momento, aprendemos. É quando a lição é assimilada que não somos mais seres irracionais. Somos carne e osso e sofremos, sim. Viver é também uma experiência de dor. Ainda mais quando estamos descobrindo o que isso significa e suas implicações. Se deixar levar, é cavar sua cova mais cedo. Jogar sua negatividade para o outro, no entanto, é infeliz. E, como acima, não adianta fazer algo ruim e depois se arrepender. Você tem que viver aquilo que prega. Ser um hipócrita é ser um bicho domesticado.
Entre idas e voltas, me perdi. A gente se perde e, quando tudo dá certo, se acha. Se perde, se acha, se perde, se acha, a roda gira. Como diz Walmor Chagas na abertura do ótimo São Paulo S. A.: Recomeçar. Recomeçar de novo. Recomeçar mil vezes... Isso é o amor e isso é ser humano. Reconhecer é o primeiro passo. O mais importante, no entanto, é o segundo: recomeçar.